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domingo, 31 de maio de 2015

As Emoções na Visão Mística

Como todos sabemos, as emoções nos são úteis de vários modos. No entanto, houve momentos em que desejamos que tivéssemos sido menos emotivos, devido aos efeitos que se seguiram. O sermos hipersensíveis tem vantagens e desvantagens. Como podemos saber quando é melhor expressarmos uma emoção natural, e quando é melhor que a suprimamos? Além disso, que emoções são automaticamente boas, isto é, benéficas, quase sempre, e quais as que podem redundar em nosso descrédito? Admiramos a pessoa dotada de razoável sensibilidade, que reage compassivamente ao seu ambiente e às circunstâncias. Todavia, a maioria de nós não encara favoravelmente a pessoa que se entrega irracionalmente a explosões emocionais; ou seja, simplesmente, a pessoa que dá rédeas soltas a toda espécie de emoção, sem discernimento. Como as emoções desempenham um papel importante em nossa vida, às vezes mais do que percebemos, cremos que o conteúdo desta terceira parte será útil ao Estudante, como mais uma “técnica prática para a vida diária”.
Nossos estados emocionais são muito comuns. Aliás, o homem foi um ser emocional por muito mais tempo do que tem sido um ser racional, ou reflexivo. Durante milênios e milênios, por incontáveis anos de obscuridade intelectual, o homem foi mais guiado por suas emoções do que por seus processos de pensamento. Mesmo atualmente, muitos homens são seres mais emocionais do que racionais; isto é, são mais influenciados por impactos emocionais do que por estímulos ao seu intelecto. Em outras palavras, somos em maior percentagem seres “afetivos”, do que seres “pensantes”, usando-se aqui a palavra afetivos com referência a emoções.
Talvez possamos abordar melhor este assunto revisando as teorias ou os fatos mais genericamente conhecidos, sobre nossas emoções. Que sentimentos ou sensações são designados como emoções? Os mais comuns são: medo, aversão, raiva, deleite, exultação, afeto, alegria, pesar, regozijo, êxtase, espanto, vergonha, pavor, ternura, amor, ódio, ciúme, ansiedade, apreensão, orgulho, remorso, e exaltação. Algumas dessas palavras referem-se a uma só emoção básica, porém, constituem diferentes graus da mesma. Por exemplo, pavor, ansiedade, apreensão, e medo, são correlatas, assim como regozijo e alegria.
Considerando todas essas emoções em conjunto, foram elas divididas em amplas categorias, segundo seu efeito geral em nós, assim como fortes e fracas, agradáveis e desagradáveis, lentas e súbitas. As emoções que nos são agradáveis — felicidade, regozijo, alegria, etc. — são aquelas que estão em harmonia com o nosso ser. O medo também tem o seu valor. Faz-nos conscientes de uma ameaça, põe-nos em guarda, dá-nos oportunidade de fugir ou nos proteger. Estas sensações estão relacionadas com os instintos e impulsos primários da própria vida.
A palavra emoção vem do latim, emovere, que significa sacudir ou agitar. Entretanto, nem todas as chamadas emoções nos agitam, necessariamente. Algumas têm efeito muito tranqüilizante, calmante, assim como um grande sentimento de paz.
Que provoca essas manifestações emocionais? Causadas por alterações nas condições internas do organismo, elas resultam de estímulos externos ou internos. Esses estímulos atuam direta ou indiretamente sobre o organismo, causando uma reação manifesta. Em conseqiência, o comportamento do indivíduo para com a pessoa ou a coisa que tenha provocado o estímulo é acelerado ou retardado. O indivíduo pode classificar essas sensações como prazer, felicidade, raiva, censura, e assim por diante.
Estímulos externos, vibrações de várias fontes, acarretam impulsos nervosos aferentes (que entram), que são transmitidos ao sistema nervoso central. Os impulsos reagentes seguem então caminhos neurais eferentes (que saem) para diferentes órgãos, glândulas, etc. Produzem alterações motoras, estimulando ou inibindo músculos e glândulas. Alguns desses efeitos são: fluxo de lágrimas, transpiração (suor frio), arrepio, e alteração da corrente sanguínea arterial, tornando a pele pálida ou corada. Pode também ocorrer diminuição ou aumento do pulso.
Considerável pesquisa tem sido desenvolvida para descobrir o efeito, sobre as glândulas, de estímulos causadores de reação emocional. Tem sido observado que a excitação emocional afeta as glândulas supra-renais. Num projeto de pesquisa, atletas (jogadores de futebol que estavam no banco dos reservas) foram examinados após um jogo particularmente emocionante, de que não haviam participado. A análise de seu sangue indicou excessivo teor de açúcar. No dia seguinte, esse excesso desaparecera.
O medo, a ira, e a dor, podem estimular as supra-renais a preparar o organismo para uma situação de emergência, tal como fugir ou lutar. Essas emergências requerem excepcional dispêndio de energia, e resistência. Portanto, as glândulas injetam secreções que proporcionem necessária energia. Muitas de nossas experiências na vida, constituindo parte de nossa existência pessoal, são emocionais. Reagimos a condições capazes de proporcionar felicidade, ou que induzam regozijo, compaixão, curiosidade, etc. Além disso, nosso relacionamento em sociedade depende muito de interpretarmos as reações emocionais dos outros indivíduos com que nos associamos.
Graças a sorriso, lágrimas, tom de voz, gestos, muito podemos dizer quanto a que sensações emocionais está uma pessoa vivendo num dado momento. Somos com freqüência forçados a ajustar nossas próprias reações a suas aparentes emoções. Por exemplo, não raciocinamos sobre a expressão alegre de uma outra pessoa. Antes, a ela reagimos, porque pode induzir semelhante emoção em nós mesmos. Neste sentido, podemos dizer que determinadas emoções, até certo ponto, são contagiosas; isto é, funcionam como estímulo capaz de despertar idênticas emoções em nós mesmos.
Mas, qual é o mecanismo da emoção? Ou seja, como é que os sentimentos ou as sensações das emoções decorrem de algum estímulo externo, por exemplo? A teoria conhecida como Teoria de James-Lange propõe uma explicação. William James e o pesquisador dinamarquês, CarI Georg Lange, chegaram simultaneamente à mesma conclusão, em 1880. Essa teoria pretende demonstrar como a consciência que o homem tem de suas emoções está relacionada com suas alterações orgânicas emocionais.
Disse James: “As alterações orgânicas seguem diretamente a percepção do fato excitante, e nosso sentimento das mesmas alterações, quando elas ocorrem, constitui as emoções.”
Em termos simples, essa teoria nos diz que estímulos percebidos produzem alterações no corpo, e que as sensações que temos dessas alterações constituem aquilo que experimentamos como emoções. Em outras palavras, a alteração orgânica precede a sensação da emoção. Assim, isto significaria que, ao percebermos algum fato excitante, nosso coração poderia começar a bater mais depressa e nossa respiração poderia se tornar mais rápida, antes de sentirmos a emoção de medo, por exemplo.
Costuma-se afirmar que isto parece contradizer a opinião geral e a experiência geral das pessoas. Entretanto, filmes de pessoas reagindo a estímulos excitantes determinaram que se passava apenas meio segundo entre a percepção do evento estimulante e a alteração fisica própria da emoção. Por conseguinte, é possível que a alteração física preceda a sensação, e seja a causa da sensação da emoção.
A Teoria de James-Lange argumenta que os impulsos aferentes, oriundos dos sentidos receptores, como os olhos, os ouvidos, passam para o cérebro. Este, como já foi dito, emite outros impulsos (eferentes) para afetar as glândulas, os nervos motores, etc., e provocar as alterações físicas. W. B. Cannon, famoso pesquisador no campo da Psicologia, refutou a Teoria de James-Lange. Disse ele que os impulsos aferentes oriundos do estímulo original, nos receptores externos (sentidos) são transmitidos ao hipotálamo. (O hipotálamo está localizado no cérebro, na base do tálamo). Do hipotálamo, esses impulsos são retransmitidos para o cérebro (parte súpero-anterior). Mas surge também, no hipotálamo, um padrão coordenador de impulsos. Estes incluem impulsos sensórios para o córtex, onde a experiência emocional é percebida e onde se dá uma excitação dos nervos motores do corpo.
A principal diferença entre estas duas teorias é a seguinte: Cannon sustenta que o hipotálamo controla e pode inibir os impulsos aferentes, com isto controlando, até certo ponto, a intensidade das emoções.
Seríamos realmente seres humanos muito frios, inexpressivos — mais como computadores - se não sentíssemos emoções. Por exemplo, não sentiríamos tristeza nem aflição, mas tampouco sentiríamos felicidade, piedade, com paixão, solidariedade, ou êxtase. Naturalmente, nossas emoções podem se tornar exageradas, como no caso de pessoas emocionalmente perturbadas. Essas pessoas estão incapacitadas de inibir ou controlar as impressões estimulantes, sejam externas, sejam internas.
Se uma pessoa é normal e não apresenta distúrbio mental ou nervoso, pode exercer a vontade de modo a manter suas emoções dentro de limites razoáveis, embora não necessariamente para reprimi-las ou suprimi-las de todo. Os antigos estóicos, da Grécia, consideravam qualquer manifestação emocional uma fraqueza — inclusive a manifestação de compaixão ou misericórdia. Orgulhavam-se de nunca sentir medo ou prazer sensual. Isto, naturalmente, é um exagero, de modo que esse comportamento pode ser tão perigoso para a saúde como as explosões em oci o na is.
Ao usarmos a vontade para controlar emoções, ela deve ser fortalecida, o quanto possível, pelo uso da razão. Por exemplo, consideremos uma pessoa com medo de palco. Sua imaginação da condição com que se defronta torna-se o estímulo excitante interno que produz o medo. Não obstante, a razão deve assistir a vontade na oposição à imagem que a mente estabeleceu. A razão deve dizer a essa pessoa que ela conhece o seu tema, e que seu auditório não é hostil, rnas, neutro, e assim por diante.

Alguns indivíduos, porém, têm maior sensibilidade a estímulos externos do que outros. Assim, algumas pessoas considerarão imediatamente certo incidente uma demonstração de crueldade, e reagirão tornando-se zangadas. Outras talvez não sejam absolutamente afetadas pelo mesmo comportamento, de modo que poderiam ser chamadas, no que concerne a suas reações, rudes e frias. Algumas pessoas são emocionalmente afetadas por certa música, ao passo que outras não são por ela comovidas. Em alto grau, portanto, essa variável reação emocional, no que tange ao seu grau de intensidade, pode ser genética, isto é, hereditária.

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