Dissemos que, segundo
a interpretação Gnóstica do Gênesis, o deus
criador havia
aprisionado Adão e Eva num mundo de miséria e os havia
dotado de uma alma
servil. Disse a bíblia que depois de comer o fruto
proibido, Adão e Eva
se esconderam, envergonhados pela falta cometida.
Deus chegou ao
paraíso e chamou Adão com estas palavras: “Onde estais?”.
Deus parece
comportar-se como um amo que chama a seu servente. Ao não
encontrá-lo, parece
dizer: “Onde estais? Onde se meteu? O que tem feito? O
que acontece que não
estais aqui trabalhando?
Este deus criador nos
criou Adão e Eva, incapazes de distinguir o bem e
o mau, o reino do
criado e o reino do não-criado. Também os criou ignorantes
de sua origem e do
seu destino.
Por que os havia
criado assim? Segundo a Gnose, não queria o criador
que os homens
conhecessem sua verdadeira origem.
Este mundo foi criado
contra a vontade do Deus Incognoscível e o criado
não quer que os
homens saibam dessas coisas. Não quer que se dêem conta
em que situação
Espiritual se encontram, quem são, para que foram criados.
Quer que permaneçam
na ignorância. Por isso proibiu comer da fruta da
árvore do
conhecimento. Pois assim “se abririam seus olhos”, despertariam
e se perguntariam
quem são e de onde vêem, em que situação estão e o que
devem fazer.
Perceberiam que o Éden não é um paraíso, mas sim o contrário.
Na descrição que faz
o Padre Leon Meurin em seu livro “A Franco-
Maçonaria”, quando
comenta as interpretações Gnósticas sobre o paraíso
terrestre e a
Serpente do Gênesis, se encontram estas idéias: Jehová não quer
que o homem conheça
sua origem e seu alto destino. Proibiu-lhe todo contato
com o mundo superior.
Quer que o homem reflita a ele, ao criador e não ao
Deus Supremo.
Mas o homem
despertou, se fez conhecedor do bem e do mal. Como fez
isso? A Serpente
tentadora do Éden lhe deu para comer o fruto proibido que
abriu seus olhos.
Segundo os Gnósticos esta serpente é Lúcifer, aquele que
traz a Luz. Lúcifer
significa isso: Portador de Luz. Lúcifer tomou forma de
uma serpente para
despertar aos homens. É um enviado do Deus Supremo,
o Deus Incognoscível.
É um Enviado do Deus Verdadeiro, que penetrou neste
mundo de miséria,
imperfeito e deficiente, para despertar e libertar o homem,
para mostrar-lhe qual
é sua verdadeira situação e qual pode ser seu alto
destino. Por esta
razão, os homens que seguem os mandamentos do deus
criador vêem a serpente
como algo maligno e satânico e em meio de sua
grande confusão, o
equiparam a satanás.
Pelo contrário, os
Gnósticos vêem a Serpente Lúcifer como salvadora.
Como alguém que veio
para salvar os homens, como um enviado do Deus
Verdadeiro. Esta
Serpente iluminadora que traz a Gnose, a verdade Gnóstica
que permite descobrir
o autêntico e verdadeiro neste mundo de confusão,
veio para libertar o
homem. Lúcifer é o verdadeiro libertador do homem.
Veio para libertar o
homem da tirania de Yahvé, da tirania do deus criador.
Têm dado aos homens o
conhecimento verdadeiro capaz de libertar-nos, o
conhecimento que por
si só liberta, que pode ajudar o homem a sair deste
mundo satânico, e
regressar ao mundo de onde provém.
Esta Serpente é, para
os Gnósticos, a Serpente da Salvação, a Serpente
que abriu os olhos
dos homens, que lhes ofereceu a maçã da emancipação,
para ajudá-los a
despertar, orientá-los a liberar-se deste mundo de miséria e
matéria impura.
Esta Serpente é, para
os Gnósticos, a Serpente da Salvação, que abriu os
olhos dos homens, que
lhes ofereceu a maçã da emancipação, para ajudarnos
a despertar e
liberar-nos deste mundo de miséria e matéria impura.
O criador quis fazer
o homem como os demais seres vivos, incapazes de
distinguir entre o
bem e o mal, mas pela ação da Serpente nos foi possível
despertar-nos e
liberar-nos. Sem dúvida, dizem os Gnósticos, este
conhecimento, esta
Gnose, de que a Serpente Lúcifer trouxe aos homens,
produziu um grande
distúrbio cósmico na criação, quão poderoso é esse
conhecimento. A Gnose
produz mudanças em quem a recebe, em quem a
escuta, porque não é
um conhecimento comum e corrente, é um
conhecimento que
liberta.
Existe um
interessante livro cujo título é “Ateísmo no Cristianismo”,
escrito por Ernst
Block, que nos oferece uma boa síntese de todo este aspecto
do pensamento
Gnóstico, o aspecto relacionado com a Serpente libertadora
como Enviada do Deus
Verdadeiro.
Os Gnósticos de
épocas posteriores, nas origens do cristianismo, o que
se chamou de
Gnósticos Cristãos ou Cristãos Gnósticos, perceberam Cristo
como a Serpente do
Gênesis. Isto foi assim porque Cristo, muito depois dos
sucessos no paraíso
terrestre, igual à Serpente, veio a trazer uma mensagem
libertadora. Uma
mensagem que liberta deste mundo impuro os homens.
Segundo estes
Gnósticos Cristãos, se tratou de um conhecimento capaz de
colocar os homens em
contato com outro mundo, oposto ao do demiurgo: o
mundo incognoscível
do Deus Verdadeiro.
Caín, O IMORTAL
Todos conhecemos o
que ocorreu depois da “caída” do homem, segundo
o Gênesis. Adão e Eva
foram expulsos do paraíso e tiveram filhos. Primeiro
Caín e logo Abel.
Todos sabemos que “Deus não aceitava os sacrifícios que
lhe dedicava Caín e
sim aceitava os de Abel”. Então Caín, cheio de ciúmes,
se lançou sobre seu
irmão e o matou. Todos sabemos isso, sempre pensamos
“que mau foi Caín”, “matou
o irmão, que horrível”. Caín era mau e Abel era
bom, essa é a
interpretação que nos chega pelo judaísmo, pelo cristianismo
e pelo islamismo.
Inclusive Santo Agostinho, quando nos dá sua interpretação
do mito de Caín e
Abel, equipara Caín com os judeus e Abel com Cristo.
Disse Santo Agostinho
que os judeus mataram Cristo, assim como Caín
matou Abel. Santo
Agostinho, como a maioria, continua a tradição de que
Abel era o bom e Caín
era o mau.
Está muito claro na
bíblia, Caín é castigado por Deus, é desterrado. Isto
é visto como algo
lógico e normal: Caín é mau e Abel é bom. A interpretação
Gnóstica é totalmente
diferente, como vamos ver agora.
Em primeiro lugar, a
Gnose sustenta que Caín não foi filho de Adão, que
Eva gerou seu
primeiro filho, Caín, com a Serpente, com Lúcifer. A Serpente
Lúcifer fecundou Eva
com seu aliento, sua força de vontade. Ou seja, Caín
não foi um filho
totalmente humano, nascido da carne. Teve algo Espiritual
muito grande, porque
seu pai era Lúcifer, proveniente do mundo
incognoscível do
Espírito.
Ao contrário, Abel
foi filho de Adão e Eva, ou seja, Abel foi um filho da carne.
Temos agora uma
primeira diferença entre ambos os irmãos: Caín é
superior a Abel. Caín
é filho do Espírito e da carne. Abel, somente da carne.
Isso, em primeiro
lugar, agora temos que Caín não é alguém mau, é alguém
superior, é alguém
importante, muito mais que Abel.
Em segundo lugar,
tanto Caín como Abel realizam sacrifícios ao deus
criador para
agradá-lo, ofertando-lhe coisas que agradam a ele. Caín sacrifica
elementos vegetais e
Abel, animais, como cordeiros. Segundo a bíblia, isto
é o que mais agrada o
criador: o sangue do animal morto e o odor de carne
queimada do cadáver.
O criador, diz a bíblia, gostava dos sacrifícios que lhe
dedicava Abel e não
os de Caín. Parecia que Caín não sentia muita vontade
de agradar o criador,
pois oferecia poucas sementes sem muita devoção,
como se não estivesse
realmente convencido da conveniência de realizar
sacrifícios.
Logicamente, os sacrifícios de Abel eram aceitos pelo criador e
os de Caín não. Caín
sentia repulsa aos sacrifícios dedicados ao criador, por
sua origem, porque
era filho de Lúcifer, porque possuía em seu interior a
centelha divina do
Anjo da Luz. Por isso não realizava bem os sacrifícios ao
criador, repugnava-o
fazê-lo, pois não pertencia a este mundo criado. Abel,
em troca, que não era
de natureza Espiritual e sim animal, realizava bem os
sacrifícios, os que
agradavam ao criador.
Uma antiga lenda nos
relata o que Abel disse, certo momento, a seu irmão
Caín: “Meu sacrifício,
minha oferenda, foi aceita por Deus porque eu o amo;
tua oferenda foi
rejeitada porque o odeias.” Agora fica claro, como não odiar
ao criador sendo um
filho do Espírito, se sua natureza é Espiritual! Aqui fica
bem claro. Todas
estas lendas e mitos que rodeiam o gênesis nos dizem
muitas coisas.
Através delas, nos damos conta que muita informação nos tem
sido tergiversada e
ocultada. Também é muito interessante outras palavras
que Caín disse ao seu
irmão. Em uma pequena frase está resumida toda a
sua oposição. Estas
palavras são chaves: “Não existe lei, nem juiz!”
(Targumín
Palestiniano, Gen., 4:8). Caín está negando a autoridade do deus
criador e que deva
render-lhe culto e obediência.
Posteriormente vemos
que Caín assassina seu irmão Abel. Isto é algo
muito profundo porque
significa que o Espírito rejeita, destrói, assassina a
alma. Abel,
representado como puro amor e devoção na bíblia. Segundo aos
Gnósticos representa
a alma do homem. Caín, pelo contrário, é o
representante do
Espírito, por isso sua hostilidade e seu ódio. A hostilidade
e o ódio próprios do
Espírito, pois o Espírito realmente se irrita com este
mundo impuro,
contaminado de mandamentos injustos e absurdos. Por isso
a resistência de Caín
a realizar sacrifícios, por isso sua desobediência às
ordens do criador.
Caín e Abel são tão opostos e irreconhecíveis como são o
Espírito e a alma.
A alma é amor puro,
não Amor Verdadeiro, mas o que conhecemos como
amor, o que cremos
que é o amor, o que nos dizem que é o amor, na realidade
é Ódio. O Espírito é
o contrário, é percebido como ódio puro, hostilidade e
vingança. Ao ter sido
encadeado a esta criação satânica somente pode sentir
hostilidade e ódio,
do modo como percebem os homens ordinários. O
Espírito, que é Amor
Verdadeiro, somente pode sentir aversão e nojo ante
esta asquerosidade.
Por isso deseja destruí-la, porque para Ele a criação é
uma monstruosidade
deformada que não deveria ter existido nunca. Isto é o
que simboliza o
assassinato de Abel por seu irmão Caín.
Caín, com todos seus
atos, se emancipou totalmente do criador e de seu
próprio corpo e alma.
Através de seus atos contra o deus criador e contra seu
meio-irmão Abel, se
emancipou de uma vez e para sempre do deus inferior
e de sua criação
impura e defeituosa. Com seus atos se transformou em um
opositor, em um
inimigo eterno do demiurgo e de sua obra.
Todo este episódio de
Caín e Abel, tal como está no Gênesis bíblico e em
lendas como as do
midrash judeu, entre outras, tem sido interpretadas pelos
Gnósticos de uma
maneira totalmente oposta a atualmente aceita.
Depois de cometer seu
Ato Supremo, diz a bíblia que Caín foi
amaldiçoado por deus
e expulso desse lugar. “Amaldiçoado e expulso”, o
mesmo destino da
Serpente do paraíso. É lógico que assim aconteceria,
porque Caín havia se
convertido em um opositor absoluto do deus criador,
mas ocorreram outras
coisas muito interessantes que vamos destacar aqui.
Em primeiro lugar,
vemos que Caín foi amaldiçoado e exilado pelo deus
criador. Isso, que
pudera parecer castigo, para um Gnóstico é o contrário.
Ser amaldiçoado e
exilado pelo criador é uma honra para um Gnóstico. É a
reação lógica do
demiurgo frente a quem o tem desafiado e esbofeteado,
frente a quem se fez
igual ou superior a ele. Caín foi exilado porque se
transformou
totalmente, se exilou com êxito por si mesmo e já não pertence
a este mundo, ainda
que continue habitando-o. A bíblia diz que o criador o
exilou, porém Caín é
um emancipado, um libertado em vida, que com seus
atos maldisse o
criador e se auto-exilou desta criação abominável.
Em segundo lugar,
contam algumas lendas judias que o criador castigou
para sempre Caín com
a falta do sono, condenando-o a não poder dormir, à
vigília permanente.
Para um Gnóstico isso não é um castigo, mas sim um
triunfo. Estar sempre
desperto é uma vantagem, uma virtude, um ganho
importante. Caín se
auto-despertou, desobedecendo aos preceitos do criador
e “assassinando” sua
alma.
Em terceiro lugar, a
bíblia diz que o criador protegeu Caín, não permitindo
que nada lhe fizesse
dano ou o matasse. Este é outro ponto muito interessante.
Dizem os Gnósticos
que o homem que se tem transformado em puro Espírito,
ainda que siga
habitando o corpo físico, é um imortal, um intocável. Nada
nem ninguém pode
causar-lhe dano, nada pode atacá-lo, já não tem medo,
pois está acima de
tudo e já não morre mais, ainda que não seja mais um ser
vivente como os
outros. Está neste mundo porém fora dele. Está fora da
matéria e fora do
tempo, já não faz parte da criação. É um exilado deste
mundo por vontade
própria. O deus criador não pode causar-lhe dano, porque
Caín se tornou
superior a ele.
Em quarto lugar, a
bíblia diz que o criador pôs uma marca em Caín, um
signo para que todos
o reconhecessem e não lhe fizessem dano. Antigas
lendas judias dizem
que esse signo era um chifre na testa. Um chifre na testa
significa poder, o
poder proveniente do Espírito, o poder que o distingue dos
demais homens. Essa “dureza”
na testa significa que o Espírito foi liberado
e tomou posse do
corpo, solidificando-o, Espiritualizando-o. Ninguém pôs
uma marca em Caín.
Caín conseguiu por si mesmo. Quando isto ocorre, a
humanidade e toda a
criação sentem. Todo Espírito liberto de sua prisão da
matéria terá essa
marca por toda a eternidade. Nunca será o Espírito que era
antes do encadeamento
da matéria. Essa marca é o corpo transformado, duro
como diamante, a quem
o Espírito transformou em imortal e eterno. Este
será sua eterna
lembrança, a prova de seu passo pelo inferno e seu triunfo
sobre ele.
Podemos encontrar
distintas sínteses sobre a explicação Gnóstica do mito
de Caín, no livro que
temos citado do Monseñor Meurin sobre a maçonaria.
Também em Lê dieu
rouge, de Robert Ambelain e em Atheism in
Christianity, de
Ernst Bloch. Assim mesmo, no livro Los mitos hebreos, de
Graves e Patai,
existem dados interessantes. Também existe uma
interpretação
Gnóstica muito profunda sobre esse mito, em uma estranha
novela que se tem
divulgado na internet, intitulado “O Mistério de Belicena
Villca”.Visite nossos site: www.otemplodemagianegra.com.br
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